Gastos com adubo chegam a R$ 34 bi
SÃO PAULO - No momento de franca expansão do agronegócio no Brasil cresce a dependência dos produtores brasileiros por fertilizantes importados e o País gasta, até julho, mais de R$ 34 bilhões com adubo, tomando como base os preços do mercado do Paraná, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A pesquisa mostra que, na comparação entre os meses de julho de 2006 e de 2007, os produtores brasileiros gastaram 19,7% a mais com fertilizantes nessa atual safra. No caso de matérias-primas muito utilizadas, como o superfosfato simples, o aumento nos preços foi superior a 35,4% em 12 meses.
Mesmo com a produção nacional registrando um crescimento de 12,7% no acumulado de janeiro a julho de 2007 e a chegada de novas empresas no Brasil, como a multinacional Noble Group, a entrada de produtos importados avançou 72,7% no período, chegando a 9,3 milhões de toneladas ante 5,4 verificados em igual período do ano anterior.
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), já foram comercializadas 21 milhões de toneladas de fertilizantes para a próxima safra. Do total já consumidos este ano, 41,7% são de fertilizantes nacionais e 58,3% importados. Apesar do número já considerado alto as perspectivas do setor para 2015 são de que o mercado nacional acelere para 71,2% no consumo de fertilizantes do outras origens.
"Na realidade a dependência brasileira em relação ao mercado internacional é histórica, mas em 2007 ela está maior do que deveria estar", afirma o diretor da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Em 2007, em função da expansão dos biocombustíveis e da safra e safrinha recorde de grãos os produtores anteciparam as compras de fertilizantes, fazendo um primeiro semestre atípico para o setor.
A Fertilizantes Heringer, terceira maior empresa de fertilizantes no Brasil, registrou um aumento de 97,3% no volume entregue de fertilizantes no segundo trimestre. A empresa, que tem capital aberto, verificou um crescimento de 137% da receita bruta no mesmo período.
Mesmo com o aumento nas vendas e no faturamento a companhia não irá aumentar a produção. "Não dá para aumentar a capacidade de produção se não há disponibilidade de matéria-prima, por isso a indústria não acompanhou o crescimento do mercado e nem vai acompanhar", avalia o gerente técnico da Heringer, Ulisses Maestre. Ainda assim ele espera que o consumo esse ano fique próximo aos 24 milhões, o que seria um recorde nesse segmento.
As transformações na demanda agrícola mundial também foi tema da coletiva anual da Bayer CropScience. A empresa espera que o uso das matérias primas agrícolas para a produção de biocombustíveis aumente consideravelmente. "Isso beneficiará tanto o mercado de sementes como o mercado de defensivos agrícolas", disse o presidente do Comitê Diretivo da Bayer CropScience AG, Friedrich Berschauer, em nota divulgada pela companhia.
Além do incremento na produção agrícola nos primeiros meses do ano, o que demandou maior uso de fertilizantes, problemas de ordem industrial na planta de Vassoura (SE), da Vale do Rio Doce, e de Camaçari (BA), da Petrobras, duas das maiores produtores de matérias-primas para a produção de fertilizantes, prejudicaram a oferta do produto no mercado interno.
Em contrapartida a Vale pretende intensificar a exploração de potássio e de fosfato tendo em vista a expansão do mercado em função dos projetos de produção de etanol e de biodiesel. No segundo trimestre a companhia ampliou sua produção de potássio de 121 mil toneladas para 162 mil toneladas e o preço médio realizado das vendas de US$ 198,08 para US$ 240,74 por tonelada, na comparação com o mesmo trimestre em 2006.
A demanda no mercado brasileiro também atrai investimentos externos. É o caso da multinacional com sede em Hong Kong, Noble Group, que esse investiu R$ 7 milhões para comercializar fertilizantes no Brasil. As vendas serão feitas por meio da formação de uma joint venture com a brasileira Península, que já atua na mistura e comercialização de matérias-primas de fertilizantes, e com a holding holandesa MAS Trade Holding. Atualmente, o Brasil é o 4º maior consumidor mundial de fertilizantes e o 3º maior importador.
Caso Fosfertil
Brigas judiciais também movimentaram o mercado brasileiro de fertilizantes nos últimos meses. O julgamento do caso envolvendo a incorporação da Bunge Fertilizantes pela Fosfertil deu prosseguimento no dia 28 de agosto com a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) a favor da Mosaic Fertilizantes, do grupo Cargill.
O TJ-SP considerou ilegítimo o afastamento dos representantes da Mosaic nos Conselhos de Administração da Fertifos e Fosfertil em abril do ano passado e a proposta de incorporação da Bunge Fertilizantes pela Fosfertil.
Em nota, a diretoria da Mosaic afirmou que a decisão foi fundamental por preservar a credibilidade do mercado de capitais brasileiro e a livre concorrência na base da cadeia produtiva do agronegócio.
DCI - Diário Indústria Comércio e Serviços
10/09/2007
Priscila Machado
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