É festa no interior
Tem novidade no campo. O agricultor, sempre tão reclamão, está mais predisposto a festejar.
Embora o dólar não ajude, o resultado final está sendo favorável e vai contagiando positivamente as expectativas para o próximo plantio.
A safra de verão está no fim e deve ser recorde: produção de 130,7 milhões de toneladas de grãos, segundo a Conab, o maior volume desde 2003. Ainda é preciso esperar pelos resultados das safras de inverno (milho e trigo), mas o balanço não deve mudar.
Entre as boas notícias está a de que os preços internacionais dos principais grãos, a soja (alta de 27,6% nos últimos 12 meses) e o milho (alta de 27,3%), devem seguir crescendo, já que foram impulsionados por um fator novo que não deve mudar tão cedo: o crescente interesse global por
biocombustíveis, obtidos pelo processamento de cana-de-açúcar, milho e oleaginosas.
Bom termômetro da boa fase é a venda de máquinas agrícolas, que, entre janeiro e abril deste ano, foi 28,7% maior do que no mesmo período do ano passado. A Anfavea mostra que o aumento das vendas de colheitadeiras e tratores foi de 75% e 36,5%, respectivamente.
O gerente de vendas da John Deere (colheitadeiras e tratores), Rasso von Reininghaus, observa que as vendas só não deslancharam porque os produtores estão à espera do anúncio do Plano de Safra 2007/2008, agendado para este mês, e da queda dos juros dos financiamentos.
A indústria de fertilizantes também está bem. Entre janeiro e abril deste ano, as vendas físicas foram 53% maiores do que as do mesmo período de 2006. A expectativa da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) é de que as vendas do setor atinjam neste ano 23 milhões de
toneladas, que seria o melhor resultado desde 2004, quando foram vendidos 22,7 milhões de toneladas. "Parte desse crescimento se deve à antecipação da safra 2007/2008", observa Eduardo Daher, diretor da entidade.
Em contrapartida, a terra e os fertilizantes estão entre os insu mos que acusam maior aumento de custo para o setor. Pesquisa do Instituto de Economia Agrícola, por exemplo, informa que, no ano passado, o valor médio por hectare no Estado de São Paulo, maior produtor de cana-de-açúcar do País, estava 113,6% mais alto do que em 2001. Algumas matérias-primas para os fertilizantes sofreram alta de até 90% em relação à safra do ano passado.
O analista de grãos e oleaginosas da Agra-FNP, Fábio Turquino, explica que esse contexto indica que o produtor vai trabalhar com boas perspectivas para a próxima safra, mas vai depender dos preços internacionais e terá custos de produção mais altos. "Para um bom resultado, o agricultor terá de planejar melhor." Para André Pessôa, diretor da Agroconsult, o produtor brasileiro está confiante, mas não abandona a cautela porque o endividamento segue alto. "A renda cresceu, mas não o suficiente para acabar com a dívida acumulada nos dois anos de crise."
Por isso ainda há limitação para captação de crédito para a próxima safra.
De todo modo, a expectativa é de que a safra 2007/2008 seja tão boa ou até melhor do que esta.
CELSO MING celso.ming@grupoestado.com.br
COLABOROU DANIELLE CHAVES
O Estado de São Paulo - 02/06/2007
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