Alta de preço de insumo pode reduzir lucro da próxima safra
Depois de ajudar os produtores brasileiros de grãos a sair do vermelho na safra 2006/2007, o preço dos insumos agrícolas pode ser o vilão da rentabilidade na colheita 2007/2008. A melhora do preço internacional das commodities agrícolas, tão festejada pelos agricultores do País, também estimulou a produção no resto do mundo e fez crescer a demanda por matérias-primas de fertilizantes e defensivos, cujos preços dispararam.
De janeiro a abril, os preços dos componentes básicos de fertilizantes (nitrogênio, fósforo e potássio) subiram vertiginosamente. O preço de importação do MAP, que é fonte principalmente de fósforo, subiu de US$ 290 por tonelada para US$ 470 no período - alta de 62%, segundo número preliminar da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Nos quatro meses, o cloreto de potássio subiu 26,3%, para US$ 240. Já a uréia, fonte de nitrogênio com preço ligado ao petróleo, subiu US$ 100 nos últimos 12 meses, para US$ 345 em abril.
Acompanhando a alta de matérias-primas, os preços do produto final já começaram a subir. No Triângulo Mineiro, os fertilizantes já estão de 25% a 40% mais caros do que os valores pagos para o plantio da safra atual, segundo o diretor executivo do Grupo Ma Shou Tao, Jônadan Ma. O grupo produz as Sementes Boa Fé e já no ano passado reduziu as áreas de milho e soja para plantar cana.
"Os produtores não têm condições de arcar com esses custos mais altos, especialmente considerando que o dólar, a R$ 2,04, diminui o preço dos grãos no mercado interno", explica Ma. Segundo ele, na safra atual a rentabilidade da lavoura foi positiva, mas porque o preço dos insumos estava baixo e o dólar era cotado a R$ 2,20 no momento do plantio. Com a nova realidade de câmbio e custos de produção, a perspectiva atual é de prejuízo para os produtores de soja e milho na safra 2007/2008.
O próprio Grupo Ma Shou Tao está adiando a decisão sobre o plantio para setembro ou outubro, às vésperas do plantio, e não trabalhou com a compra antecipada de insumos este ano. "O preço dos defensivos também já começou a subir, especialmente no caso do glifosato, mas o mercado de insumos para grãos está totalmente parado", diz o empresário. A expectativa dos produtores é que, segurando a compra dos insumos, as indústrias baixem os preços para estimular as vendas.
"A alta no preço dos fertilizantes será um fator limitante para a produção de grãos, especialmente em áreas menos produtivas que exijam maior adubação", prevê Paulo César Tinoco, presidente do Sindicato das Indústrias de Matérias-Primas para Fertilizante (Sinprifert). O executivo cita como exemplo as áreas de arenito do Mato Grosso, já parcialmente abandonadas ou onde soja e milho foram substituídos na safra 2006/2007, que tendem a ser ainda menos utilizadas.
Ilegalidade
O aumento no preço dos defensivos, na opinião de Jônadan Ma, deverá estimular a utilização de produtos piratas, trazidos por contrabando principalmente da China via Paraguai. "Se os preços subirem, o produtor não terá alternativa", afirma ele. Ao ano, entram no Brasil US$ 360 milhões em agroquímicos contrabandeados de Paraguai e Uruguai, considerando apenas os produtos que entram legalmente nesses países.
O número, fruto de uma pesquisa realizada pela PricewaterhouseCoopers a pedido do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), corresponde a quase 10% do mercado nacional, de US$ 4 bilhões. "Em alguns produtos as importações paraguaias anuais seriam suficientes para abastecer aquele país por 137 anos", afirma o diretor presidente do Sindag, José Roberto da Ros.
Luiz Silveira
Quarta-feira, 2 de maio de 2007
DCI - Diário Comércio Indústria e Serviços
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