PotashCorp mira cana e ração para ampliar atuação no Brasil
O aumento da demanda mundial por biocombustíveis está colocando o Brasil em destaque na estratégia mundial da PotashCorp, a maior fornecedora mundial de matérias-primas para fertilizantes. Apesar do nome pouco conhecido, a companhia norte-americana é também a maior fornecedora brasileira de potássio e está se preparando para manter essa posição.
A PotashCorp, que no ano passado faturou US$ 3,77 bilhões, tem como principais mercados os Estados Unidos, a China e o Brasil. "Dentre esses, o Brasil é o que apresenta as melhores condições para ampliar a área agricultável para produção agrícola ou animal. A PotashCorp quer crescer 8% ao ano aqui a partir de agora", afirmou o diretor de Desenvolvimento de Negócios da divisão de rações da PotashCorp, Steve Auman ao DCI.
O executivo esteve até ontem em São Paulo (SP) participando do II Global Feed & Food. O presidente mundial da companhia, Bill Doyle, também esteve no País para participar do evento, que teve a PotashCorp como uma das patrocinadoras.
Segundo os cálculos da PotashCorp, o consumo brasileiro de KCI, forma em que é apresentado o potássio, pode saltar dos atuais 5,5 milhões de toneladas para mais de 11 milhões. Doyle afirma que apenas para igualar o equilíbrio entre os três principais nutrientes de fertilizantes (nitrogênio, fósforo e potássio) utilizados em suas formulações, Brasil, China e Índia gerariam uma demanda adicional de 29 milhões de toneladas de potássio.
Em outros países de grande crescimento no consumo, a PotashCorp já começou a adquirir participações acionárias em suas clientes, as distribuidoras de fertilizantes. Mas, no ano passado, o mercado brasileiro de adubos foi atingido pela crise de rentabilidade dos produtores de grãos.
Já na China, onde as vendas da PotashCorp subiram acima do crescimento econômico de 10,2% no ano passado, a empresa adquiriu 20% da Sinofert, a maior distribuidora de fertilizantes local. No Brasil, a principal cliente da PotashCorp é a Bunge Fertilizantes.
Mas Auman ressalta que o Brasil é estratégico para a empresa, pelo crescimento na produção de cana e carnes e pela localização geográfica. Ele explica que as principais fontes de potássio do mundo estão na Rússia, na Jordânia e no Canadá, fornecedor mais próximo do Brasil e país onde ficam as minas da PotashCorp. Por isso, a competição é menor que no mercado chinês, por exemplo, muito mais próximo da Rússia.
A companhia está rindo à toa com o crescimento da produção de etanol: tanto o milho como a cana, as principais matérias-primas do álcool no mundo são grandes consumidoras de potássio nas lavouras.
Para comparação, um hectare de cana consome cerca de quatro vezes mais potássio que a mesma área de soja.
A disparada na produção mundial dos biocombustíveis é a grande aposta da PotashCorp para voltar a crescer, depois de um pequeno "soluço" no gráfico de vendas no ano passado, quando a situação brasileira e os baixos preços mundiais de grãos durante a maior parte do ano desestimularam o plantio e a aplicação de fertilizantes na maior parte dos mercados, exceto na Ásia .
Dois pés, dois barcos
Em um momento em que os alimentos ficam mais caros para a populaçào mundial com os biocombustíveis consumindo mais cana, milho e soja, Auman considera que a PotashCorp está em uma situação privilegiada. "Nosso principal negócio é fertilizante, mas a divisão de rações atua como contrapeso importante - nós estamos dos dois lados dessa disputa (alimento versus energia)", explica o executivo.
A estratégia da empresa, no entanto, é focar em seu negócio principal, de potássio para uso fertilizante, que garante as melhores margens. Esse foco elimina a possibilidade de a PotashCorp realizar investimentos em produção no Brasil, onde a única mina, da Petrobras, está cedida à Companhia Vale do Rio Doce e atende algo entre 11% e 12% da demanda interna. No entanto, nada impede uma aquisição de uma empresa distribuidora ou misturadora de fertilizantes no Brasil. A companhia é representada aqui pela Potafertz, e possui um armazém de potássio e uma unidade de fosfato em Santos (SP).
Luiz Silveira
DCI - Diário Indústria, Comércio e Serviços - 19/04/2007
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