Boas novas no campo
O Estado de São Paulo - NOTAS E INFORMAÇÕES
Sexta-feira, 12 janeiro de 2007
Boas novas no campo
O otimismo ressurge no campo, com boas previsões para a agricultura e, por extensão, para a economia brasileira. Os produtores voltarão a ter lucro em 2007, depois de dois anos de crise, segundo projeções do governo e do setor privado. A safra de grãos e oleaginosas - algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo, além de algumas lavouras menores - deverá totalizar 123,9 milhões de toneladas, resultado 6,3% maior que o do ano anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O ano começa, portanto, com perspectivas animadoras para os agricultores, para o comércio do interior e para as indústrias ligadas ao agronegócio.
Mais uma vez o setor deverá contribuir tanto para o aumento da exportação quanto para a contenção do custo de vida. Em 2006, o agronegócio exportou cerca de US$ 49 bilhões e obteve um superávit comercial de US$ 42 bilhões. As condições de abastecimento interno deverão continuar satisfatórias, provavelmente com preços bons para os produtores e acessíveis aos consumidores. Só as lavouras de arroz e de amendoim deverão produzir menos que em 2006. A primeira deverá recuar de 11,5 milhões para 11 milhões de toneladas e a segunda, de 201 mil para 176 mil toneladas. Mas não se prevê dificuldade no abastecimento de nenhum produto.
A nova projeção do IBGE, divulgada na terça-feira, foi baseada em levantamento realizado em dezembro. Esse levantamento só inclui dados concretos a respeito das lavouras de verão. Para as demais, tomou-se como referência a produção da última safra. Se os preços e o tempo continuarem favoráveis, a safra efetiva poderá ultrapassar o volume agora previsto.
Se o ano for tão bom quanto se prevê, os agricultores terão uma base firme para a recuperação financeira. Muitos conseguiram renegociar a dívida com o banco no ano passado, em condições muito favoráveis. Com o dinheiro ganho neste ano, poderão gastar mais em consumo e ainda voltar a investir na atividade, aumentando os cuidados com o solo e comprando equipamentos.
No ano passado, as vendas de máquinas agrícolas da indústria para as concessionárias totalizaram 25,7 mil unidades, número 10,6% maior que o de 2005, mas ainda muito inferior ao pico de 2002, quando foram entregues cerca de 42 mil.
A crise na agricultura prejudicou a indústria de tratores, colhedeiras e implementos, afetou as estatísticas de investimentos e refletiu-se, portanto, no desempenho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A expectativa para este ano é de maior demanda tanto de máquinas e implementos quanto de insumos destinados a manter e a elevar a fertilidade do solo.
Não é apenas na produção de grãos e oleaginosas que são boas as perspectivas. O levantamento do IBGE também prevê um aumento de 5% na produção de cana-de-açúcar, de 458 milhões para 482,4 milhões de toneladas. A produção de álcool tem sido estimulada não só pela demanda interna, fortalecida com o sucesso dos carros flexfuel, mas também pela crescente procura internacional. Essa é, também, uma das causas, nos últimos meses, da valorização do milho, usado nos Estados Unidos para a fabricação de etanol.
Mas a recuperação da agricultura, neste ano, não bastará para tornar a atividade mais segura, se o governo não melhorar sua política setorial. A política aplicada nos últimos quatro anos foi marcada por uma notável coleção de erros. O governo foi lento e ineficiente, quando foi necessária sua intervenção para sustentar preços ou para socorrer produtores prejudicados pela seca ou por problemas financeiros. Os problemas se agravaram. Quando as soluções normais se tornaram insuficientes, o Tesouro tornou-se refém dos eternos aproveitadores das renegociações. Foi ineficiente, também, na política de defesa sanitária, e com isso facilitou o surto de aftosa em Mato Grosso do Sul em 2005. Não deixou, no entanto, de apoiar política e financeiramente os grupos empenhados em destruir o agronegócio. Os produtores de verdade continuam fazendo sua parte, como indicam os dados da exportação e do custo de vida e as projeções para a nova safra. Se o governo cumprir seu papel, o Brasil poderá consolidar sua condição de potência agrícola.
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