Da lavoura ao chão de fábrica
Da lavoura ao chão de fábrica
Estado que mais cresceu nos últimos 20 anos, Mato Grosso parte agora para o segundo ciclo do desenvolvimento, a industrialização
João Paulo Nucci - CUIABÁ
Berço esplêndido do agronegócio, com 21% da produção brasileira de soja, milho, arroz e algodão e sede do maior rebanho do País, com 24 milhões de cabeças de gado, Mato Grosso planeja seu futuro para fora da porteira das fazendas. Após garantir sua reputação no campo, o Estado ensaia um passo natural na escala do desenvolvimento: a industrialização.
Um esforço para atrair capital industrial já garantiu R$ 5,5 bilhões em investimentos. A maior parte dos projetos é ligada ao agronegócio, como as unidades de abate de aves e suínos que a Sadia está montando em Lucas do Rio Verde e Campo Verde, ao custo de R$ 1,5 bilhão, e o abatedouro que a Perdigão comprou e reformou por R$ 40 milhões, em Nova Mutum. Fabricantes de insumos e equipamentos também já estão se instalando no Estado, como a empresa gaúcha de equipamentos de irrigação Focking e a produtora paranaense de defensivos agrícolas Nortox.
Outros investidores, como a cearense Santana Têxtil, que está em fase final de construção de uma planta em Rondonópolis, estão indo a Mato Grosso pela abundância de matériaprima - no caso, o algodão. E ainda existem as empresas que estão experimentando migrar para a região confiando em sua posição estratégica - Cuiabá é o centro geodésico da América do Sul - e na melhoria dainfraestrutura de transportes. É o caso da Itap Bemis, fabricante de embalagens do grupo DixieToga, que também escolheu Rondonópolis para sede de uma planta de R$ 50 milhões. Esses investidores recebem benefícios concedidos tanto pelo Estado quanto pela antiga Sudam (atual Agência de Desenvolvimento da Amazônia): Mato Grosso pertence à chamada Amazônia Legal, embora apenas o norte do Estado seja coberto pela floresta - a vegetação dominante é o cerrado, típica das planícies do centro.
Ao todo, estima-se que cerca de 50 mil empregos serão criados nos próximos dois anos pela onda de industrialização.
Que está só no começo, segundo o governador Blairo Maggi, dono do Grupo Amaggi, um dos maiores produtores de soja do mundo. "Pelo menos outros dois investimentos de porte já estão praticamente fechados", afirma Maggi, sem revelar a identidade das empresas.
Hoje, cerca de 70% do PIB do Estado depende da agropecuária, responsável, nos bons tempos, por sua prosperidade.
No entanto, em momentos de crise no campo, como o atual, essa dependência acaba penalizando-o severamente. O orçamento do Estado para o ano que vem, por exemplo, já sofreu um corte de 13% para absorver a queda de arrecadação prevista com a diminuição da produção agrícola. Com isso, a pretendida diversificação da economia funcionaria como um amortecedor para futuras crises.
Atrair empresas é uma obsessão do governo estadual. "Fazemos tudo o que o investidor quiser. Existem regras gerais, mas negociamos caso a caso", diz Maggi. "É guerra fiscal pura." Há quem conteste a opção preferencial pela industrialização. "Mato Grosso tem de se dedicar à sua vocação, que é o agronegócio, e não a roubar fábricas de outros Estados", afirma o empresário João Luiz Ribas Pessa, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Algodão. "A população local é pequena, não há mercado consumidor." Para ele, o mais importante é que o consumo interno do País cresça. "Tanto faz se a indústria está em Santa Catarina ou no Mato Grosso", diz Pessa. O Estado, que ocupa pouco mais de 10% do território nacional, conta com apenas 2,7 milhões de habitantes. A opinião de Pessa é refutada por Elio Rasia, secretário de Desenvolvimento Econômico de Rondonópolis. Para ele, o efeito multiplicador da chegada das indústrias compensa qualquer custo que o governo tenha em atrair os investimentos. "A Santana Têxtil, por exemplo, vai permitir que se crie um pólo de confecções no entorno da cidade", afirma.
Rondonópolis, a terceira mais importante cidade do Estado - depois da capital Cuiabá e da vizinha Várzea Grande - tem sido especialmente beneficiada pela onda de industrialização. Um distrito industrial de 190 hectares localizado ao sul do Rio Vermelho, que corta o município, já
está completamente reservado. Outra área equivalente já está preparada para receber as novas fábricas. Situado 220 km a leste de Cuiabá, Rondonópolis se beneficia especialmente por estar no entroncamento de duas rodovias federais e a apenas 160 km do ponto inicial da Ferronorte - que um dia cruzará a cidade.
Sede do Grupo Amaggi, a cidade conta ainda com grandes unidades do trio ABC, sigla que identifica a ADM, a Bunge e a Cargill, multinacionais que absorvem e processam o grosso da produção agrícola da região.
O Estado de S. Paulo - 20/11/2005. O Mapa do Brasil - Centro Oeste
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