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A era do alimento barato pode estar no fim

Para especialistas, explosão dos biocombustíveis e do consumo dos chineses pode fazer explodir os preços

Patrícia Campos Mello
CORRESPONDENTE WASHINGTON

Os catastrofistas avisam: acabou a era da comida barata. O boom dos biocombustíveis e o enriquecimento dos chineses estão por trás do mais recente bicho-papão dos economistas, a "agflação", termo que descreve a inflação de produtos agrícolas. Historicamente, a tendência dos preços dos alimentos é de queda, por causa dos ganhos em produtividade provenientes de avanços tecnológicos.
Mas o aumento da demanda por grãos para produzir biocombustíveis e o crescimento no consumo de proteínas na China podem ter acabado com essa fase de pechinchas.
Os preços dos alimentos estão subindo em ritmo preocupante na Europa, China, Índia e nos Estados Unidos. Neste ano, a inflação dos alimentos deve ficar em 4% nos EUA, ante 2,5% em 2006. Será a maior inflação de alimentos em 17 anos. O preço do frango industrializado subiu 30% em um ano nos EUA.
Na Europa, o preço da manteiga subiu 40%. O trigo está sendo negociado a preços recordes no mercado futuro. Na China, o porco subiu 20% em 2006 e o índice de preços de alimentos na Índia subiu 11%. No México, o aumento de 60% no preço das tortilhas causou protestos. O café da manhã de milhões de americanos está mais caro. A Kellog´s e outros fabricantes de cereais anunciaram reajustes e o leite deve subir 14% neste ano.
Nos EUA, o maior vilão é o etanol. O boom de etanol aumentou muito a demanda por milho, que chegou ao preço recorde de US$ 4,10 por bushel, ante US$ 2,40 há um ano. E, apesar de as pessoas comerem pouco milho diretamente, ele é parte essencial de vários alimentos. É principal componente da ração de porcos, bovinos, frangos, o que leva a aumento de custos de criação desses animais e afeta derivados como ovos, manteiga e leite. Até a Coca-Cola leva milho, como adoçante. "Leite, milho, ovos, carne, sorvete e iogurte de uma geladeira típica são todos feitos de milho, em última instância. Nossas geladeiras são recheadas de milho", exemplifica o economista Lester Brown, presidente do Earth Policy Institute. Daí os efeitos em cadeia.
Mas a reação em cadeia não pára por aí. Com o preço do milho em alta, mais e mais agricultores trocam o cultivo de soja e algodão por milho. Resultado: com menor produção, sobem também os preços da soja e do algodão. Como os EUA respondem por mais de metade das exportações mundiais de grãos, os preços acabam afetados.
Na Europa, o aumento de produção de canola e soja para biodiesel é que está por trás da agflação. Para agravar o problema, vem o batalhão de chineses que estão saindo da zona de pobreza e passam a consumir carnes, aumentando a demanda de grãos para alimentar animais.
Os preços estão subindo tanto que deram origem até a um lobby antietanol. Por muito tempo, o etanol foi unanimidade nos EUA. Era visto como a salvação do meio ambiente e o fim da dependência do petróleo de nações pouco amigáveis. Mas hoje em dia não é mais só o presidente cubano Fidel Castro que vitupera contra o etanol.
Nos EUA, associações de produtores de peru, porco, frango e carne bovina estão engajadas em um lobby pesado no Congresso para reduzir os subsídios do etanol de milho. A Associação dos Produtores de Carne Bovina pede também a eliminação da tarifa de importação sobre o etanol brasileiro, uma maneira de aumentar a entrada de etanol de cana e reduzir a demanda doméstica por milho para produzir o combustível.
A grande questão é: esses aumentos vieram para ficar, haverá uma mudança estrutural nos preços de alimentos por causa da nova demanda por biocombustíveis ou trata-se de algo temporário, que vai se ajustar com uma maior oferta, tal como ocorre quando problemas climáticos afetam as colheitas? André Nassar, presidente do Icone, acha que se trata de uma mudança conjuntural. "O milho vai ficar mais caro por um bom tempo, mas acho que não se trata de uma alta estrutural nos preços dos alimentos´, diz. ´Há regiões no mundo onde pode haver grande expansão de produção, como o Brasil, mas isso no médio prazo, claro, não no ano que vem." Especialistas apontam o Brasil como o país com estoque de terras férteis disponíveis. No País, a expansão da produção de etanol de cana não pressiona os preços dos alimentos. Para Lester Brown, o Brasil teria, de fato, bom potencial para expansão de produção de soja e milho, mas não de trigo e arroz, por motivos climáticos. Segundo ele, as pessoas estavam acostumadas com altas temporárias nos preços agrícolas, por causa de uma seca ou enchente, por exemplo. Mas agora a mudança pode ser permanente. "O preço da comida vai subir com o do petróleo", disse Brown. Recentemente, ele foi chamado ao Senado americano para uma audiência sobre os efeitos dos biocombustíveis nos preços mundiais de alimentos.
Ephrain Leibtag, especializado em preços de alimentos do Departamento de Agricultura dos EUA, afirma que, ao lado da demanda de etanol, a alta nos preços de energia também tiveram papel importante na inflação dos alimentos. Ele não acredita que haja uma mudança estrutural. "Acho que não vai perdurar, principalmente porque etanol de milho não é eficiente no longo prazo; deverão mudar para outros combustíveis", disse ele, ao Estado. A alternativa seriam importação de etanol de cana do Brasil ou etanol celulósico nos EUA, quando se tornar viável comercialmente.
Bruce Babcock, diretor do Centro de Desenvolvimento Agrícola da Universidade de Iowa, acha que a mudança pode ser para valer. " Se os EUA mantiverem políticas de incentivo ao etanol, haverá mudança estrutural nos preços, que se acomodarão em nível mais alto", disse Babcock, que estuda o impacto dos biocombustíveis nos preços dos alimentos. "Nós não chegamos a esse nível e os preços vão continuar subindo".

O ESTADO DE SÃO PAULO - 01/07/2007

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